Escrito por Heloise Hamada/ Do Ifronteira
Maria Isabel com a irmã e a neta enquanto ainda estava em tratamento contra o câncer de mama (Foto: Arquivo pessoal) |
Maria Isabel Nunes nasceu em 1954. Era um outubro como este: Rosa. Mesmo com uma vida nem sempre tão cheia de arco-íris, ela nunca deixou seu dia a dia descolorido. Com provações ao longo desses quase 59 anos, ela superou um câncer de mama e ainda começou uma rede de solidariedade para ajudar outras mulheres a encontrarem forças para continuar a viver.
Natural de Itapetininga (SP), ela chegou a Presidente Venceslau há mais de três décadas e desde então Maria Isabel precisou ser forte por ela e pelos filhos. “Não tinha parentes por aqui. Vim porque meu marido veio para cá trabalhar, mas a gente chegou e ele arrumou outra mulher e me deixou com três filhos pequenos”, relata.
Para ela, restou continuar trabalhando muito para criar os filhos. Foi em 2011 que ela novamente se deparou com mais uma barreira a ultrapassar. “Fui fazer um exame de rotina, como fazia sempre de seis em seis meses. Tudo deu normal, mas um exame acusou um caroço na mama”, conta.
Daí até a cirurgia para a retirada da mama foram 20 dias. A recuperação transcorreu normal, mas a parte “pesada” começou depois, com as seis sessões de quimioterapias e 33 de radioterapia. “Perdi os cabelos, cílios, sobrancelhas. Engordei 17 quilos. Estava careca e gorda. Meu filho mais novo veio para casa cuidar de mim, ele brincava que eu estava parecida com o Tio Chico da Família Adams e eu começava a rir”,
comenta também rindo.
Apesar de tudo, ela se manteve positiva e sem revoltas. “Quando fiquei doente eu pensei: ‘E agora? O que Deus quer me mostrar?’. Mas com a ajuda dos meus filhos e muita fé superei tudo. Meu lema sempre foi lutar. Se eu tenho 1% de chance para viver, ele é meu e eu vou batalhar por ele”, diz.
Reflexo
Foi um ano de tratamento, depois seu cabelo voltou a crescer e ela começou a perder peso. Foi quando Maria Isabel começou a dar apoio a outras pessoas e iniciar a rede de solidariedade. “As pessoas comentavam que estavam surpresas em me ver tão bem, em como tudo tinha sido mais fácil para mim. Mas nunca foi fácil. É difícil, muito difícil, porém, não é impossível. O que muda é a forma de encarar aquilo”, enfatiza.
Partindo do princípio de que a dor do próximo também é sua, ela decidiu ajudar outras mulheres. “O mínimo que eu posso fazer é tentar amenizar o sofrimento dessas pessoas para que elas se sintam melhores. Assim, eu também me sinto mais leve”, pontua.
Outro ponto que ela ressalta é que muitas vezes as pessoas só consideram a doença quando atinge pessoas próximas. “Existe preconceito, sim. Você vai a certos lugares e as pessoas te olham como coitados, achando que você vai morrer”, lamenta.
Mesmo com as intempéries da vida, ela aprendeu que com carinho, bom humor, bate-papo e “comilança”, tudo pode melhorar. Gestos simples, mas que fazem a diferença. “Junto com as meninas, fazemos um bolo e vamos tomar um café com muita conversa. Fiz muitas amigas”, fala.
Essa rede de solidariedade não tem nome ou formalidades. Em contra partida, tem muito esforço de ambas as partes e Maria Isabel serve de espelho para quem muitas vezes não consegue se enxergar no futuro.
“Uma vez falaram: ‘Olha para mim, estou careca’. E eu falei: ‘Olha para mim, eu passei por isso e meu cabelo já está comprido’. Digo sempre que vai passar, que vai voltar a ser como antes”, se emociona.
Outubro Rosa
O mês de outubro é voltado para alertar as mulheres para a prevenção ao câncer de mama. Apesar de saber da importância do carinho durante o tratamento, Maria Isabel salienta a relevância da prevenção.
“Toda mulher precisa visitar seu médico. Quando mais campanhas e informações, melhor para as mulheres se conscientizarem. É preciso fazer a mamografia, o exame do colo do útero. A medicina está muito avançada também”, afirma.
Em entrevista ao iFronteirta, a militante em prol da luta contra o câncer de mama até deu risada quando foi informada que nasceu no mesmo mês da campanha. Maria Isabel é enfática ao dizer que seu mundo sempre foi mais que cor de rosa, sempre foi colorido e que aprendeu muito com sua doença.
“Acho que tinha que passar por isso para amadurecer, sentir na pele o que o outro sente. Minha família também ficou mais unida, com mais reuniões. Largamos tudo para fazer viagens juntos. Não tem aquela coisa de ‘não posso’”, reflete.
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Com essa vontade de viver intensamente, Maria Isabel tem em seus planos continuar com esse trabalho solidário que faz tão bem aos outros e a ela. “É um combustível para continuar vivendo ver que aquela pessoa que estava tão desanimada melhorou após uma simples conversa e que depois elas passam a ajudar aos outros também”, completa.
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