terça-feira, 18 de julho de 2017

Aguinaldo Carvalho fala sobre o tema" Ética, com cera ou sem cera?"


Existem palavras que às vezes ficam difíceis de serem utilizadas nas exatas acepções de sua origem, devido ao que ela representa no uso atual. 

Uma delas é a palavra sincera. Há uma versão que propõe a origem dela na Roma antiga. Os escultores fraudulentos quando esculpiam uma imagem de mármore com algumas falhas – rachaduras ou pequenos defeitos – empregavam uma cera específica para esconder e camuflar essas deficiências nas estátuas e de uma maneira que o freguês não percebesse. 

Depois de algum tempo, os clientes que adquiriam essas esculturas encontravam as imperfeições, ou seja, desvendavam que era um entalhe “cum cera”. Os escultores corretos faziam questão de expor que suas estátuas eram “sine cera”, ou seja, perfeitas, sem falhas camufladas. 

Conta essa história etimológica para ser uma analogia ao vazio ético em que estamos vivendo em nossa sociedade. A corrupção se alastrou por todas as maneiras de relacionamentos sociais. Produzindo com isso um problema seríssimo na condição de manutenção da ordem social, pois a cada dia o tecido social se esfacela. 

A falta de padrões éticos não está presente somente nas falcatruas postas à vista pela Operação Lava Jato. Pequenas ações de corrupção cotidianas levam ao anestesiamento da consciência ética dos indivíduos, que vão levando para o modo de vida a putrefação dos valores morais. 

Uma grande parte não enxerga como corrupção o cortar a fila nas mais diversas situações que elas surgem. E esse comportamento pode ser a porta de entrada para os favores “especiais” que resultarão no constante movimento do mercado das propinas. Seja a diminuição do tempo de espera em uma fila, ou a compra de uma sentença judicial. 

Podemos também falar sobre as mentiras ditas em cadastros de algum órgão a fim de conseguir um benefício. Mentir o endereço para conseguir uma consulta em determinado hospital. Mentir a idade da criança para conseguir vantagem na passagem de ônibus, ou no preço da alimentação no restaurante. E por aí as trapaças vão aumentando. Mentir para o INSS. Mentir na Declaração de Renda. Mentir nos compromissos feitos na campanha. Mentir sobre o real estado dos produtos para o consumidor. Bem vou para com o exemplo da mentira, porque o parágrafo ficará muito extenso. 

A corrupção está enraizada nos mais diversos meios sociais. Há uma urgência de uma verdadeira cruzada para a recuperação dos padrões éticos dentro dos relacionamentos humanos. Não existe mais espaço para esta contínua expansão da falta de caráter moral. 

Como sal é tão necessário para dar sabor aos alimentos, assim é a ética, extremamente indispensável para temperar de maneira eficiente, a boa convivência social. 

 AGUINALDO ADELINO CARVALHO



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