sexta-feira, 28 de julho de 2017

Aguinaldo Carvalho fala sobre "Dilemas para amar" mais um tempo tratado por esse pensador regional

“Ame o seu próximo como a si mesmo”. Não existe mandamento maior do que estes. Marcos 12:31 

A intenção deste texto, caro leitor, não está na tentativa de doutriná-lo religiosamente, mas em entender as concepções da vida humana a partir do pensamento de um livro que tem influenciado muito a vida das pessoas através dos tempos. 

Segundo o escritor Isaltino Gomes Coelho, a Bíblia tem o seu valor histórico inegável devido ao grande número de evidências documentais existentes, até em maior número do que outros documentos antigos, aceitos como dignos de confiança. 

Tucídides, historiador acolhido pelos estudiosos, existiu entre 460 - 400 a.C. Seus escritos chegaram até nós com oito manuscritos de 900 a. C. (1.300 anos depois de sua vida). Os manuscritos de outro historiador, Heródoto, são mais incomuns, mas também aceitos, como os de Tucídides. Chegaram-nos em escassas cópias, bem depois da sua vida. Os textos de Aristóteles, filósofo grego, foram produzidos em cerca de 330 a.C. O manuscrito mais velho é de 1.110 d.C. (1.400 anos após sua vida). Nenhum filósofo rejeitou Aristóteles por isso. As guerras gaulesas foram descrevidas por César entre 58 e 50 a. C., mas o manuscrito mais contemporâneo data de 1.000 anos depois de sua morte. No entanto, todos eles são benquistos pelos historiadores como dignos de confiança. 

Ninguém recusará a importância de A Ilíada, de Homero, que tem 643 manuscritos. Pois bem, do Novo Testamento temos cerca de 2.000 manuscritos, cópias de escritos dos anos 46 a 90 da era cristã, bem próximos dos acontecimentos relatados por testemunhas oculares. Quanto ao Antigo Testamento, em 1947, nas cavernas de Qumram, descobriram-se centenas de seus manuscritos, alguns datando de 150 a.C. Até onde se pôde traduzir o texto confere, palavra a palavra, com o que temos revelado. 

Do ponto de vista bibliográfico, a Bíblia possui mais base manuscrita que qualquer outra peça literária da antiguidade. 

Então podemos perceber que o trecho do Evangelho de Marcos é de grande instrução, pois a orientação de amar ao próximo como a si mesmo é posta num condicionamento de mão dupla entre o eu e o outro. 

Há um princípio de colocar uma grande ênfase na alteridade (situação, estado ou qualidade que se constitui através de relações de contraste, distinção e diferença do outro indivíduo), porque essa afinidade é uma condição do sujeito em elaborar as suas lutas internas. Pois a partir do momento que se amo o outro como a si mesmo, ocorre a fixação de uma escala de valor emocional mensurável para o desenvolvimento de sentimentos benéficos ao eu e ao o outro. 

O ponto interessante dessa passagem é que o afeto visível no amor ao próximo que encanta qualquer pessoa, na verdade é uma possibilidade do entendimento do autoconhecimento emocional, pois somente depois de encarar os dilemas internos que sempre são postos em evidências, haverá a possibilidade do amor ao outro. 

O Rabi Jesus Cristo (como Nicodemos o chamou) traz na essência deste conceito a integração do interno com o externo, possibilitando o entendimento de uma existência humana de maior profundidade. Há a necessidade de cada um ir, ao encontro daquilo que muitos fogem: o relacionamento com o outro e o relacionamento com o eu interior, local onde podem estar escondidos os piores monstros que atormentam a vida do homem. 

Olhando com maior especificidade percebemos que amar o próximo é mais fácil do que amar a si mesmo, pois aquele que tem ódio ou rancor pelo outro, é na verdade, uma pessoa que ainda não se descobriu amando-se, pois ninguém consegue dar o que não tem. 

Quando olhamos e admiramos o amor que alguém nutre por outro podemos estar diante de duas situações: Alguém que já entendeu o ensinamento do Rabi e já resolveu seus dilemas internos ou alguém que foge do encontro com seus pesadelos e medos inconscientes para evitar o enfrentamento.

O movimento introspectivo proposto pelo Evangelista Marcos é de suprema importância, dentro de uma perspectiva de desenvolvimento dos afetos positivos do rol dos sentimentos humanos. 

AGUINALDO ADELINO CARVALHO

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